O grupo parlamentar da UNITA manifestou hoje “bastante preocupação” com os “actos de violência” de “agentes da Polícia Nacional” angolana contra “crianças estudantes que se manifestavam pela melhoria das condições” de uma escola em Viana, município de Luanda. Está feito. Já podem regressar às mordomias parlamentares, desde logo porque quem leva porrada são os outros.
“O grupo parlamentar da UNITA acompanha com bastante preocupação as notícias sobre os actos de violência levados a cabo por agentes da Polícia Nacional em Viana, perpetrados contra crianças estudantes que se manifestavam ontem, quinta-feira, 13 de Outubro de 2022, pela melhoria das condições na Escola 5008, localizada em Viana”, fez saber o principal partido da oposição através de uma nota.
A partir dos gabinetes, a UNITA “condena esta onda crescente de violência praticada por agentes da lei e ordem, empunhando armas de fogo, sobretudo contra crianças inocentes e inofensivas que reclamavam apenas pelos seus direitos”, acrescenta-se no texto.
A declaração “insta” ainda o Ministério do Interior angolano (que deve estar a tremer de medo) a “pôr cobro, com urgência” ao que o partido designa como um “cortejo de atropelos aos direitos humanos, à Constituição e à lei praticados por agentes da Polícia Nacional”.
O partido “solidariza-se”, por outro lado, com estudantes e demais cidadãos que, “no uso dos seus direitos constitucionais, se manifestam para a melhoria das suas condições de vida, de ensino e de trabalho”. Muito bem.
Recorde-se que A polícia do MPLA deteve um professor que organizou uma marcha de alunos para exigirem novas carteiras numa escola do município de Viana, província de Luanda, informaram hoje as autoridades.
Segundo o porta-voz do comando provincial de Luanda da Polícia Nacional do MPLA, Nestor Goubel, o professor liderou uma marcha de aproximadamente 300 alunos, com o objectivo de chegarem à repartição de educação de Viana, “para reclamar contra a falta de carteiras, para acomodação dos alunos”.
Tendo em conta a situação, “a polícia foi accionada pela direcção da escola, na pessoa do director, João Paulo de Oliveira, (segundo o qual), antes da saída da escola, por instigação do próprio professor, já haviam danificado cerca de 50 carteiras”, disse.
Nestor Goubel frisou que o professor é acusado de organizar uma marcha não autorizada e do crime de danos materiais, avaliados em 1,7 milhões de kwanzas (cerca de 4.000 euros).
“Cada carteira tem o preço unitário de 35 mil kwanzas (82 euros), o que perfaz um global de 1,750 milhões de kwanzas”, sublinhou o porta-voz da Polícia de Luanda.
Nestor Goubel disse também que a ser verdade o uso de armas de fogo para dispersar os perigosos terroristas (alunos e professor) foi aberto um inquérito para se apurar a veracidade desta informação e “vão ser assacadas responsabilidades”.
“Em princípio, parece que o professor mostrou resistência. Ele levou meninos de 12, 15 anos, para essa manifestação, com todas as consequências, barraram estradas, parecia que estava a cumprir uma outra agenda”, frisou.
Segundo o porta-voz da Polícia de Luanda, o professor tem apenas 15 dias de trabalho na instituição “e já se propõe a realizar uma marcha”.
“Quando a polícia é solicitada para intervir, ele colocou uma série de obstáculos, quase que afrontou a polícia em cenas de desacato, mas foi aberto um inquérito para saber até que ponto é que isto confere com a verdade dos factos”, realçou.
Segundo o presidente do MEA (Movimento de Estudantes Angolanos), Francisco Teixeira, em relação ao estado de espírito das crianças, muitas estão assustadas, “principalmente as meninas de 12, 13 anos”.
“Viveram um cenário de guerra, a polícia apareceu mascarada como se fosse uma guerra, mas vamos acompanhá-los, vamos tentar envolver psicólogos para auxiliar as crianças”, acrescentou.
“Eles acompanharam o professor a ser agredido, com choques eléctricos, esses estão mais assustados. Mas hoje quando o professor foi retirado de uma esquadra para outra, os estudantes saíram das salas a gritar a favor do professor, foi um sentimento muito bom, quer dizer que em termos de cidadania, de direitos, as crianças vão já tendo alguma noção daquilo que são os seus direitos e é bom para um país como o nosso, em que a democracia ainda é muito jovem”, destacou.
O Sindicato dos Professores Angolanos considerou justa a reclamação, pecando apenas na forma como terá sido organizado o protesto, por ter exposto as crianças ao perigo.
Quanto ao resto, amanhã haverá mais coisas deste tipo. O MPLA vai continuar a pôr em ordem os seus escravos, os activistas vão continuar a protestar e – é claro – a UNITA vai continuar a emitir comunicados de repulsa…
Folha 8 com Lusa